Luto do Homem | Carta de Diretrizes e Princípios

Compreender nosso posicionamento nas estruturas sociais é um exercício contínuo na medida em que ele constantemente se transforma. Entender quem somos numa sociedade que já era antes de nós é fundamental para reconstruí-la sobre valores que sirvam a todos e todas. Assim, reconhecendo nossa construção masculina acumulada de um passado estrutural, nosso papel como homens no presente, e também nossa contribuição coletiva para o futuro, nós, através desta carta, estabelecemos os valores e fundamentos que guiam o movimento Luto do Homem.

1. Propósito

O Luto do Homem é um movimento coletivo de homens que busca combater as estruturas patriarcais atuantes na sociedade através do acolhimento de homens enlutados e da promoção do debate público, aberto e democrático sobre as questões da morte, do morrer, do luto quando atravessadas às masculinidades e às experiências de vida de homens.

2. O homem

Para o movimento e para o projeto, homem é todo aquele que se identifica como tal, respeitando-se a identificação de gênero e as construções identitárias singulares de cada um. Entendemos o homem como alguém que tem seu sofrimento invisibilizado, que também é afetado pelas estruturais sociais do patriarcado e que, portanto, também precisa se posicionar contra ele, não somente em nome de outros gêneros, mas também em nome de si. Entendemos o homem como alguém que deve ser visto em suas especificidades e que deve ocupar espaços de luta pela equidade de gênero e o respeito à diversidade.

3. O luto

Trabalhamos para que o luto masculino seja visibilizado socialmente, entendendo-o portanto como um luto sobre o qual incide uma ação de invisibilização social. Esta invisibilização advém da construção social de determinada masculinidade hegemônica e ideal, estruturada dentro e para o patriarcado, que afasta o homem de si mesmo e da possibilidade de acessar e lidar com o sofrimento, da possibilidade de amar a si mesmo e a outros e outras expressando-se de maneira legítima. O nosso trabalho é, para além de criar ou abrir espaços, é sermos espaços para que homens possam ser quem são e para além do que a sociedade demanda. Ser espaço para o sofrimento, para o amor, para si mesmo e para o/a outro/a.

4. Fundamentos

Como fundamentos do movimento e do projeto estabelecemos o respeito à dignidade humana, universal, inviolável e inquestionável; o respeito à diversidade humana em todas as suas expressões, sejam elas de raça, classe, sexualidade, gênero, espiritualidade, corpo, região ou país, idade ou qualquer outro atravessamento social; a singularidade do indivíduo como base do acolhimento e do diálogo promovido; a compaixão como instrumento de ação e transformação no mundo.

5. Valores

Como valores principais e que guiam todas as ações do projeto e do movimento estão em primeiro lugar o amor incondicional e a compaixão, entendidos como base de toda a ação e a reflexão; os direitos humanos, como norte para todas as elaborações e propostas; a ética como princípio relacional; e o voluntariado como valor em si.

6. Ética

O Luto do Homem se propõe a uma atuação ética em todas as suas ações e dimensões, onde o respeito ao indivíduo e a sua história seja a todo tempo conservado; onde toda a atuação e o acolhimento se pautam pelos princípios da beneficência, da não-maleficência, da autonomia e da justiça. Neste entendimento ético o projeto é espaço seguro para todos aqueles que nele chegam, onde o sigilo e o anonimato são preservados.

7. Supervisão

Todo o projeto é supervisionado pela Fundação Elisabeth Kübler-Ross Brasil, dando apoio, formação e treinamento a todos os voluntários que atuam nele, sendo, portanto, obrigatório a formação e o treinamento de voluntariado fornecidos em conjunto com a Fundação supervisora.

8. Coordenação

A coordenação do projeto é formada por um colegiado de homens que dele fazem parte, responsáveis por fomentar propostas e ações para que ele aconteça. Este colegiado reúne-se regularmente pelo menos a cada um mês e é responsável por dirigir efetivamente todas as ações do Luto do Homem.

9. Voluntariado

O projeto é e sempre será voluntário, sendo pautado pelo ideal de voluntariado como um valor e da ideia de uma comunidade compassiva. Todos os projetos voltados para a comunidade são e sempre serão gratuitos. O projeto e o movimento se financiam através de oferecimento de formações, cursos, produtos, serviços, doações, contribuições etc. que, em se cobrindo os eventuais custos, todo o lucro será direcionado para o projeto e suas ações comunitárias.

10. As masculinidades

Ser homem não precisa ser forte, invencível ou impassível de sentimentos. Ser homem não é corresponder a um ideal de corpo, ter pênis, ser pai ou corresponder a uma expectativa de expressão de gênero. Ser homem não precisa ter que ser o provedor ou assumir as responsabilidades de todo o mundo. Ser homem não precisa ser agressivo, viril ou autocentrado. Ser homem não precisa ser quem se enfia no trabalho, quem se excede em vícios, quem assume comportamentos de risco. Ser homem não precisa ser tão silencioso.

Ser homem pode ser aquele que cuida de si e de outras pessoas. Ser homem pode ser aquele que se permite ser fraco, que encontra na fragilidade uma força que nem sabia que existia. Ser homem pode ser dividir, pode ser dizer que não aguenta ou não consegue. Ser homem pode ser chorar, sozinho ou na frente de outras pessoas; pode ser falar sobre si ou sobre qualquer coisa. Ser homem pode ser, acima de tudo, um ato de amor: amar o mundo, amar o outro, amar a si mesmo, com verdade, com profundidade, com compaixão. Ser homem é, de fato, poder ser quem você é.

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