Uma carta de si para si mesmo de um homem sobre seu luto paterno após perder sua filha durante a gestação.
Léo, o lance é esse parceiro. É seguir dia a dia, sempre de pé, pisando firme, e preparado pra não cair quando os pés pisarem em nuvens. Afinal, cê já entendeu que pisar firme e pisar em falso é normal, né?
Mano, não sonha que vai ter o tempo certo pra você digerir um luto cara. Na moral, você melhor do que ninguém (com profundo respeito ao luto de cada um) já deve ter entendido que o luto é um processo sem fim né?
– Porra, tê dizer que lembro dos dias em que me vi puto com esse tal de luto. Que merda! Qual a dificuldade de uma dor virar saudade, e não uma dor ser uma dor que arregaça? Mano do céu. O lance da aceitação, to ligado que vai ser bem foda. E como diz minha psicóloga, “tá tudo bem!”. É meio louco pra mim dizer “tá tudo bem!” pq sério, não tá tudo bem. Porra, mas tá tudo bem!
Eu tenho o direito de não estar bem no dia e na hora que for, quantas vezes for! Já escutei pra caralho sobre o lance de ninguém ter que estar bem o tempo todo. Minha brother psicóloga que o diga. Mas escutar é uma coisa. Entender é outra. Ela me falou várias vezes sobre o lance de eu me cobrar muito, em querer estar bem. E reconheço isso.
E me dizia “vive Léo, para de querer estar bem o tempo todo.”
O que eu tenho de bom, e soco meu peito por isso, é saber o quanto sou foda. Se fosse pra tombar já tinha tombado com a partida da minha mãe. Cai, mas me levantei sozinho.
Sozinho ponto e vírgula. Eu, a Paula, o William, a Filó, a Moana, a Marta e o Chalela.
Mas, a decisão em querer ficar de pé, partiu de mim. É do meu bolso que sai a grana pra pagar minhas terapias e medicamentos, e é uma puta grana. Mas pago com gosto!
A decisão é minha, sempre foi minha! Por isso sim, sou foda.
E, é lembrando disso, que sou foda, e que prometi à Luiza que seria um pai foda pra ela, que estou caminhando dia a dia, chorando pra caralho, rindo pra caralho, subindo degraus, as vezes parado em um degrau, mas nunca desci um. Nunca recuei.
As boas lembranças com a Luiza, na barriga da Paula, tem me inundado principalmente nas horas em que a bad bate forte. Faz bem! Me ajuda a lembrar que fui feliz pra caramba com minha filha enquanto estivemos juntos por aqui.
Em uma ocasião, eu disse à uma rapaziada enlutada que “nos resta dar a cara a tapa pra dor e aprender com ela.”
Fácil não é, nem fodendo. Mas, como a decisão parte única e exclusivamente de mim, tenho caminhado bem demais.
O que tem me ajudado muito também, é tacar o foda-se e seguir me permitindo ficar mal quando eu estiver mal. É responder que não tá tudo bem, quando não está.
E tá tudo bem. E sim, sou pai, e pai fica na bad, pai chora. Homem chora! E se levanta porque pai é pai. Sigo construindo meu caminho.
Não dá pra dizer que sigo reconstruindo meu caminho. O meu caminho não mudou. Quem mudou foi eu. Quem tem que se entender com si mesmo no momento presente, sou eu.
E é isso ai. To de luto. Um luto intenso pela perda da Luiza. E to de pé. Rindo, sangrando por dentro, caminhando, vencendo, comemorando, me reinventando, e chorando.
Meu momento é insano. Eu nasci e fui forjado pela minha mãe à lidar com situações insanas. Minha Fé em mim, recarrega minha força interior de um jeito que eu mesmo me assusto. Nunca tombei, e nunca. Nunca vou tombar.
Mas vou ficar na bad quando tiver que ficar, vou chorar quanto tiver que chorar, e tá tudo bem!
Tá bem foda, mas tá tudo bem.
Léo Canelas, pai da Luiza, participante dos encontros do Luto do Homem.